Luiz Inácio Lula da Silva mantém larga vantagem na corrida eleitoral, segundo pesquisa Datafolha publicada hoje na Folha.
Os candidatos dos pelotões inferiores também seguem onde estavam. A introdução de novos nomes candidatos à terceira via contra o atual e o ex-presidente e o agravamento da crise política, que culminou nos atos de cunho golpista de Bolsonaro no 7 de setembro também não alteraram o quadro.
É o que aponta pesquisa feita no dias 13 a 15 de setembro, na qual foram ouvidos 3.667 eleitores de forma presencial em 190 cidades. A margem de erro é de dois pontos para mais ou menos. (Veja os gráficos abaixo).
Esta pesquisa revela um quadro de cristalização das opiniões. Se a eleição fosse hoje, a maioria dos eleitores que opinam já teriam seus candidatos de preferência. E, como a maioria já se definiu, o resultado é uma consolidação dos resultados, com mínima variação para mais ou para menos.
O cenário geral mostra que a maioria dos eleitores já escolheu e não alterou suas opiniões, que começam a se consolidar e se mover, eventualmente, de forma apenas casual e somente dentro dos limites das margens de erro. Os demais candidatos, que buscam a chance de uma terceira via, tampouco melhoraram suas posições e, em alguns casos, até perderam votos.
O Datafolha fez quatro simulações de primeiro turno, duas delas comparáveis com levantamentos anteriores, e duas novas.
Nos cenários comparáveis, há estabilidade em relação à rodada anterior feita pelo Datafolha em julho.
1) Lula oscila de 46% para 44% e Bolsonaro, de 25% para 26%, numa hipótese em que o candidato tucano é João Doria (SP), que passa de 5% para 4%. Nesse cenário, Ciro Gomes (PDT) segue em terceiro (de 8% para 9%), tudo dentro da margem de erro.
2) O petista vai de 46% para 42%, e Bolsonaro se mantém em 25%, na simulação em que o nome do PSDB é Eduardo Leite (RS) —que oscila de 3% para 4%. A diferença no cenário com o gaúcho é que Ciro Gomes (PDT) pula de 9% para 12%.
Os novos cenários tampouco alteram a equação.
3) No mais fechado, só com Lula, Bolsonaro, Ciro e Doria, eles mantêm as distâncias registradas em outras simulações.
4) No mais aberto, as notícias são desalentadoras para os entusiastas de uma terceira via na disputa neste momento, ainda mais após o ato fracassado contra Bolsonaro no domingo (12) em São Paulo ter unid alguns dos postulantes ao Planalto.
Os quatro primeiros colocados do cenário fechado ficam onde estão, e um pelotão de nomes ventilados por partidos e políticos recentemente se forma empatado tecnicamente com Doria.
São eles o apresentador José Luiz Datena (PSL, 4%), a senadora Simone Tebet (MDB, 2%), o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM, 1%), e o ex-ministro Aldo Rebelo (sem partido, 1%). O senador Alessandro Vieira (Cidadania), que como Tebet tenta a sorte a partir do palanque obtido na CPI da Covid, não pontuou.
Também de forma homogênea, os cenários incluem cerca de 10% de votos brancos, nulos ou em nenhum dos indicados.
A inalteração das opiniões tende a comprovar a avaliação feita nos principais círculos políticos de que o jogo seguirá desta forma, salvo alguma intercorrência grave, até o afunilamento das candidaturas a partir de abril.
É nisso que apostam tanto o grupo de Doria, no caso de ser confirmado nas prévias tucanas de novembro, quanto os nomes que visam impulsionar Pacheco, com o cacique Gilberto Kassab (PSD) à frente.
Uma esperança da centro-direita é que um eventual derretimento da popularidade de Bolsonaro possa inviabilizar o presidente na urnas e abrir espaço para um novo anti-Lula em outubro de 2022.
SEGUNDO TURNO
Neste momento, o petista segue sem concorrência nas simulações de segundo turno.
Bate Bolsonaro por 56% a 31%, ante 58% a 31% anotados em julho.
Doria perderia de Lula por 55% a 23% (56% a 22% em julho) e Ciro, por 51% a 29% —um cenário considerado bastante difícil, já que o pedetista tem o mesmo público fiel das outras três eleições que disputou (1998, 2002 e 2018), na casa dos 10%, mas trafega num espectro de esquerda dominado pelo petista.
Nesta pesquisa, Ciro pontua melhor entre pessoas com nível superior e entre os mais jovens (casa dos 14% nos cenários especulados).
Para o PSDB, que pelo peso estadual e o histórico de competitividade até o fracasso de Geraldo Alckmin em 2018 é um partido em torno do qual giram articulações, a situação só é confortável na também remota (hoje, como convém na política brasileira) de Doria enfrentar Bolsonaro num segundo turno.
Neste caso, o paulista vence Bolsonaro por 46% a 34% (46% a 35% na rodada anterior).
Mas a pesquisa mostra alguns dos gargalos que afligem os estrategistas tucanos.Nem Doria nem Leite têm penetração no segundo mercado eleitoral do país, o Nordeste, que tem 26% da amostra da pesquisa do Datafolha. Ambos giram entre 1% e 2% das intenções de voto por lá.
Para Doria, há lição de casa a ser feita: em São Paulo, seu estado, ele registra de 7% a 10% das intenções de voto. Leite, na região Sul onde vive, marca 8%. Não por acaso, nesta semana o tucano lançou um programa de obras e investimentos.
Lula faz jus à fama de rei do Nordeste. Marca 61% das intenções de voto por lá, e enormes 42% quando a pergunta é respondida de forma espontânea, sem a apresentação de fichas com os nomes dos candidatos.
Nesta aferição, contudo, o quadro geral é de estabilidade. A subida que Lula deu do começo do ano, quando marcava 21%, para 26% em julho, foi estancada. Ele chegou a 27%. Bolsonaro foi na mesma linha, oscilando de 19% a 20%.
Lula tem suas maiores vantagens entre os mais pobres (até 34 pontos sobre Bolsonaro), menos educados (31 pontos), jovens (29 pontos) e mulheres (25 pontos).
Já o presidente tira sua força dos mais ricos (42% a 23% de Lula) e, principalmente, no eleitorado evangélico. Sua base de apoio desde a campanha de 2018, o grupo que soma 26% da amostra populacional dá a ele 38% a 34% contra o petista numa simulação e 36% a 32% em outra.
É um empate técnico, mas no limite da margem de erro. Curiosamente, não reflete a erosão da popularidade do presidente, que ganhou 11 pontos de rejeição entre os evangélicos neste ano, chegando a 41% de avaliação negativa.
Tudo isso ocorre sob o forte impacto da escalada autoritária de Bolsonaro, que culminou com os atos de 7 de setembro.De julho para cá, houve embate com o Congresso, tentativa de impeachment de ministro do Supremo, blindados desfilando em Brasília para simular apoio militar e o embate agudo com o Judiciário.
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