RICARDO BRUNO
As restrições do eleitorado evangélico ao deputado Marcelo Freixo por conta de seu histórico de defesa das chamadas pautas identitárias começa a preocupar a direção nacional do PT. O temor é de que o pessebista, se associado ao ex-presidente Lula, possa funcionar como âncora da candidatura petista no Rio, com reflexo em todo o Brasil.
Lula tem suas maiores dificuldades exatamente no público evangélico, especialmente nas denominações neopentecostais, que tem uma postura extremamente conservadora nos costumes. A moderada mas consistente recuperação de terreno de Jair Bolsonaro foi impulsionada, em boa medida, por adeptos destas igrejas, que, orientados pelas lideranças dos templos, voltam a apoiar a reeleição do presidente.
Um dirigente petista, que preferiu o anonimato, disse que na medida em que houver “colagem” pública dos nomes de Freixo e de Lula, durante o processo eleitoral, crescerá a possibilidade de se afugentar ainda mais o eleitor evangélico, num processo de contaminação da candidatura petista por pautas de costumes polêmicas.
O que Marcelo Freixo quer de Lula – facilitar a penetração de seu nome em redutos populares como São Gonçalo e Baixada Fluminense – é exatamente o que mais preocupa. Esse eleitorado é majoritariamente evangélico e pode passar associar o ex-presidente aos temas controversos vinculados à imagem do pessebista, dificultando ainda mais a candidatura petista neste eleitorado.
De acordo com Datafolha, num hipotético segundo turno, Lula, numericamente, perderia para Bolsonaro entre os evangélicos por 46% a 43%. No primeiro turno, o placar seria 37% a 34% a favor de Bolsonaro. Os números expressam de modo inequívoco as dificuldades do ex-presidente neste eleitorado, ao reverso da média nacional que mostra a liderança contundente do líder petista.
Há ainda uma outra questão a aumentar os fantasmas de uma contaminação de Lula por Freixo. As maiores denominações evangélicas – Assembleia de Deus de Madureira, do bispo Abner Ferreira; Assembleia de Deus Vitória em Cristo, de Silas Malafaia; Universal, de Edir Macedo – tem suas bases no Rio de Janeiro. Portanto, a aproximação de Lula das pautas identitárias no Rio poderia facilmente se espraiar pelo país, no rastro da pregação de bispos e pastores cariocas.
Os temores não chegaram ainda a produzir mudanças na orientação de apoio a Marcelo Freixo. Mas, de acordo com a fonte, estão provocando uma profunda reflexão se o partido não estaria incorrendo num erro de cálculo eleitoral que poderia ser facilmente evitado.
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