Ernesto Araújo se acovardou para tentar falsificar sua própria história

RICARDO BRUNO Há dois Ernestos, como definiu a senadora Kátia Abreu com clareza merediana : um, debochado, provocativo, negacionista, discípulo do atraso e porta-voz das trevas onde pululam Olavo de Carvalho e outros fanáticos. Por dois anos e três meses, os brasileiros conviveram com este nocivo personagem no Ministério das Relações Exteriores. Nesta terca-feira (18),…

RICARDO BRUNO

Há dois Ernestos, como definiu a senadora Kátia Abreu com clareza merediana : um, debochado, provocativo, negacionista, discípulo do atraso e porta-voz das trevas onde pululam Olavo de Carvalho e outros fanáticos. Por dois anos e três meses, os brasileiros conviveram com este nocivo personagem no Ministério das Relações Exteriores. Nesta terca-feira (18), em depoimento na CPI, o País se viu diante de um Ernesto subitamente transmutado; o antes impositivo falastrão, dono de insultos abusivos e acusações levianas, media as palavras, escandindo frases com visível cuidado diplomático.

Confrontado minimamente pelos senadores, não raro, gaguejava num comportamento avesso ao do ministro ensimesmado em preconceitos ideológicos obtusos. Ernesto não parecia Ernesto; na encenação, incorporou predicados que não lhe pertencem. Foi moderado; abandonou a retórica de confronto para adotar o equilíbrio e a ponderação – princípios dos ensinamentos do Barão do Rio Branco. Nada fazia lembrar o Ernesto ministro.

Seu depoimento misturou desfaçatez e cinismo numa simbiose deplorável que, no barato, afrontou a razão. Apesar das evidências contrárias, o ex-chanceler negou que tenha insultado a China, maior parceira comercial do Brasil e fabricante dos insumos das duas principais vacinas utilizadas no País. A insistência como renegava o passado irritou o presidente Omar Aziz, que pediu para que parasse de contar historinha.

O mais relevante de tudo que disse, ou do que não disse, foi a admissão de ter feito gestões pela compra de cloroquina no mercado internacional, por solicitação do Ministério da Saúde e autorizado pelo presidente Jair Bolsonaro. Neste momento, implicou Pazuello e Bolsonaro como responsáveis pelo desatino de gastar recursos e esforços para adquirir um medicamento inadequado, contraindicado a pacientes com covid. Ao invés de negociar a compra de vacinas, o e ex-chanceler ocupou-se de tratativas sobre medicamentos inócuos, num balé irresponsável de movimentos internacionais improdutivos.

A moderação súbita não permitiu, contudo, que ele reconhecesse o papel da Venezuela na crise de Manaus, com a doação de oxigênio para salvar a vida de brasileiros abandonados pelo Governo Federal. Instado a responder se agradeceu às autoridades do país de Nicolas Maduro, o ex-ministro se mostrou contrafeito, incomodado pela possibilidade de rendição pública à atitude altruísta e humanitária do país vizinho.

O senhor negociou com as autoridades da Venezuela? O senhor agradeceu a ajuda”, quis saber o senador Randolfe Rodrigues.

Em visível desconforto, retrucou laconicamente, em voz baixa, como se quisesse esconder a própria palavra, envergonhado talvez da atitude: “Não, não”, sussurrou.

Coube a Omar Aziz, definir com clareza a extensão das consequências da omissão do governo brasileiro.
– O oxigênio veio da Venezuela de caminhão. Se um avião da FAB tivesse ido buscar, muitas vidas teriam sido salvas – lembrou, diante de um Ernesto em absoluto silêncio, ato interpretado como confissão passiva de sua inação por razões puramente ideológicas, mesmo estando em risco a vida de brasileiros.

Ernesto Araújo não foi exatamente um depoente. A rigor, foi apenas protagonista de uma contrafação da história recente da diplomacia brasileira. O ex-chanceler visto na CPI fazia enorme esforço para se mostrar diferente do imbecilóide das frases de efeito que animavam as reuniões do bolsonarismo raíz. Posto em ambiente lúcido, onde não havia espaço para tergiversações da realidade, se acovardou, num esforço para falsificar sua própria história.

A máscara, que usava com desconforto, serviu-lhe de escudo não apenas para o vírus, mas, fundamentalmente, para ocultar a personalidade nociva do homem esteve à frente do estratégico Ministério das Relações Exteriores.

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